No regresso das minhas férias em Abril de 1975, já em pleno período de confrontos entre os três movimentos acreditados pelo governo português, ao passar no Alto Hama, encontrei uma barragem na estrada de militares da UNITA, que nos mandaram parar.
Huambo
Era um posto de controlo, que passava revista a todas as viaturas.
“KWACHA” irmãos, foi assim que o comandante daquele posto nos saudaram.
Mandou abrir a lona que tapava alguns sacos de feijão, batata e milho da Carrinha do Gama e depois de olhar o interior pediu para abrir o saco de viagem.
Mostrei o que levava, roupa e o necessário para a higiene pessoal (escova de dentes, pasta dentífrica, sabão e pincel para a barba, gilete e sabonete).
Uma pasta com alguns livros, e um volume de cigarros AC e outro de Hermínios que eram os cigarros que fumava na altura.
Cigarros Herminios e A C
Ao redor da viatura estavam 5 ou 6 soldados, todos com as armas apontadas para mim, e para o Gama
O comandante perguntou-nos o que é que nós fazíamos e para onde ia-mos.
O Gama respondeu que tinha ido a Monte Belo no Bailundo, onde se encontravam os pais e que regressávamos a Luanda. Que o que se encontrava dentro das sacas eram produtos alimentícios, que tinham sido dados por eles.
Pediu-me, se lhe dava alguns cigarros e que podíamos seguir viagem. Assim fiz, dei-lhe três maços de tabaco, despedimo-nos e seguimos viagem.
Almoçamos na Cela.
Ao chegarmos á Quibala, o mesmo, outra barragem de estrada, mais um posto de controlo da UNITA, mais outra verificação da bagageira e lá se foram o resto dos cigarros..
Cidade da Cela
Alto Dondo
Paramos no Dondo, fui ao Hotel junto ao rio Quanza e compro novamente um volume de cigarros, como não têm Hermínios compro Java.
Seguimos viagem, e na ponte sobre o rio Lucala, perto de Cassoalala, outra barragem, agora com militares do MPLA.
À nossa frente temos duas viaturas, um jeep Land Rover e uma carrinha de caixa fechada. O condutor do Land Rover reclama com os militares, estes sobem para a caixa do jeep e obrigam-no a seguir para Massangano onde estava o comando daquela unidade.
Aproximam-se de nós e temos a sorte de sermos reconhecidos por um dos elementos do MPLA, era natural de Luanda, e tinha feito parte da minha turma da escola João Crisóstomo no 2º ano em 1968/1969.
Fica contente de me ver e manda que levantem o pau que barra a estrada para nós seguirmos viagem, não sem antes de nos avisar de que dali até Luanda não havia mais controlos de estrada e que se eu visse algum, passasse com velocidade e não parasse pois eram bandidos.
Fica contente de me ver e manda que levantem o pau que barra a estrada para nós seguirmos viagem, não sem antes de nos avisar de que dali até Luanda não havia mais controlos de estrada e que se eu visse algum, passasse com velocidade e não parasse pois eram bandidos.
Catete aproxima-se, passamos a vila já de noite, ao longe nota-se no céu o clarão das luzes sobre a cidade de Luanda, de repente surgem no meio da estrada uns vultos de que identificamos serem do MPLA, uns quase fardados, (só tinham camisa de camuflado o resto era vestimenta civil), outros com o chapéu característico das FAPLA.
Erguem as mãos em sinal de paragem, Seguimos o conselho que nos deram na última paragem, o Gama acelera a carrinha e segue em frente.
Desviam-se saltando para os lados da estrada, passamos a grande velocidade, de repente ouvimos rajadas de metralhadora, sinto o impacto de balas nas costas da caixa da carroceria do Datsun 1200 , sentia as pernas a tremer e um ligeiro suor corria-me pela testa.
Só paramos junto ao prédio no Bairro Prenda. Abri a porta e fui ver a traseira da carrinha. Notavam-se 5 buracos na carroceria da carrinha. Descarregamos a carga num armazém e seguimos para o Bairro Popular com outra agravante era recolher obrigatório e já passava das 20 h 00, mas lá chegamos a casa sem mais sobressaltos. Entrei em casa e não contei nada à família para não causar preocupações. Assim acabaram as férias, regressando ao trabalho e em Junho regressei definitivamente a Portugal.
1975
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