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21/06/2012

RAINHA / ZUNGUEIRA / GINGA





Rainha Ginga. Rainha preta. Senhora das guerras e das demandas. Mulher, angolana, guerreira. Nzinga Mbandi Ngola. Filha de Ngola Kiluanji, rei de São Paulo de Assumpção de Loanda no tempo da colonia e do tribalismo, no tempo de lágrimas.
Zungueira (kitandeira ) é a negociante do mercado das ruas informais que percorrem toda a Luanda. Seja o pão por 25 kwanzas ou o tomate por 100 kwanzas a dúzia, elas são filhas de pais e mães sem nomes, guerreiros como elas e como

muitas outras ao longo de muitos sóis.


A Rainha Ginga foi Rainha de Matamba e Angola nos séculos XVI e XVII (1578 a 1663). Considerada uma das primeiras líderes nacionalistas, lutou ferozmente contra a Metrópole. Símbolo da resistência angolana ao colonialismo português. Conterrânea de Zumbi dos Palmares, senhor das guerras e senhor das demandas.
As irmãs desta zungueira também são inominadas(véis?) mas podem atender pelo nome de Ana, Maria, Sila, Elsa, Glória, Bárbara, Engrácia, Rosa, Filomena, amém, seja feita a vontade de quem puder mais. São tantas as tranças destas guerreiras, são todas as cores estampadas nos panos, é quase nada o que recebem debaixo de

tantos sóis.


Para reaver o seu território em poder dos portugueses precisou negociar a sua fé, sendo batizada então como Dona Anna de Sousa e suas irmãs Cambi e Fungi como Dona Bárbara e Dona Engrácia. Antes da capitulação refugiou-se numa ilha do rio Kwanza, mas a história que segue é que morreu de causas naturais segundo

informações colhidas.


A zungueira vai de lá para cá com a bacia na cabeça e a criança no dorso oferecendo os seus produtos e é chegada a hora de revelar que a ladainha interminável e por vezes onírica que envolve o viajante todas as manhãs na Rainha Ginga nada mais é do que o pregão de uma distinta senhora que oferece a dúzia de carapinhas [peixe de água salgada servido grelhado] por 1000 kwanzas ao longo de toda a rua. O seu território é a Maianga, o Prenda, a Mutamba, a Baixa, o Mártires, os Palancas o comércio informal é combatido a chutes e pontapés (uma lágrima) pelos babas sórdidos do Kinaxixi e próximos à rotunda do Zé Pirão.




Kitandeiras



A senhora imortalizada na estátua de bronze, um dia Angola foi o reino Kongo, Cassange, Planalto Central, Huíla-Humbe, Matamba e Ndongo, a senhora vestal impõe-se soberbamente e empoeirada e de uma só vez no meio dos prédios incrédulos e sórdidos do Kinaxixi e próximos à rotunda do Zé Pirão.



2010


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