TuneList - Make your site Live

21/06/2012

SITA VALLES



Nos finais de 1971, com 20 anos de idade, deslocou-se para Portugal, matriculando-se no quarto ano da Faculdade de Medicina de Lisboa. A saída de Angola, mais do que por factores pedagógicos, foi motivada pelo desejo de participar activamente na luta política. O amorfismo da Universidade de Luanda vedava, então, qualquer tipo de actividade militante contra o regime. Daí o afluxo dos estudantes progressistas das colónias para Portugal.

Em Lisboa, ingressou no movimento estudantil. Fez parte da direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina, no ano de 1971-72. Em Dezembro de 1971, escassas semanas após a chegada a Portugal, é contactada pelo PCP (Partido Comunista Português), ingressando na UEC, organização estudantil deste partido.



                                                         Miss caloira na faculdade


Rapidamente se destaca pela sua grande capacidade de organização e intervenção. Em princípios de 1972, está no secretariado da célula comunista da escola. 
No dia 25 de Abril de 1974, encontrava-se em Moscovo, como representante da UEC ao congresso do Konsommol (organização de juventude do PCUS). Depois do 25 de Abril, torna-se funcionária da UEC, fazendo parte da comissão executiva do seu comité central. Interrompe os estudos, para melhor se dedicar à vida política.
Em Junho de 1975, numa altura em que o povo angolano enfrentava sérias dificuldades na luta pela independência, abandona Portugal para dar o seu contributo à Revolução Angolana. Os seus dotes de organizadora levaram a uma rápida promoção dentro do MPLA.
Em Junho, é encarregue pelo Bureau Político da reorganização do sector intelectual. Retoma os estudos, matriculando-se no sexto ano da Faculdade. Com o agudizar das contradições internas, após a independência, começa a ser marginalizada no MPLA. Em 1976, é obrigada a abandonar esta organização em virtude da decisão de expulsão de todos os militantes que tivessem militado em organizações estrangeiras.
  Sita Valles e o filho Ernesto (1977)

Destaca-se para o interior de Angola, integra nas equipas médicas. Em Fevereiro de 1976, tem um filho. Em 27 de Maio, ocorrem graves confrontos em Luanda. É acusada de ser um dos responsáveis.
Em meados de Junho é presa. Em Portugal, ainda há quem se recorde de Sita Valles, a jovem fuzilada em 1977 em Angola. A sua aura continua viva entre as gerações de estudantes universitários, particularmente os associativos que a conheceram, no início dos anos 70, nas faculdades de Medicina de Lisboa e Luanda. Foi uma grande líder do movimento estudantil e um quadro estimado do Partido Comunista Português e da União dos Estudantes Comunistas (UEC)
e do M.P.L.A., em Angola.

Sita Valles teve uma vida muito breve (1951-1977). Mas intensa. Desde que tomou consciência das injustiças do mundo, não mais deixou de ser um turbilhão político. Muito activa, quer na clandestinidade quer em democracia, ela acreditava lutar por uma sociedade melhor. Três décadas depois da sua execução – juntamente com José Van-Dunem, Nito Alves e um número desconhecido de vitímas que certamente ultrapassam as 20 mil, ainda me lembro dela e dos seus irmãos.

«Diz-se que Sita Valles foi fuzilada às cinco da manhã do dia 1 de Agosto de 1977. Um tiro em cada perna, um tiro em cada braço. O corpo caiu na vala previamente aberta, antes de desferido o disparo mortal. Ou o que restava de Sita, após as torturas e a orgia de violações pelos homens da Direcção de Informação e Segurança de Angola (DISA), a polícia política do regime. Um tractor aplainou o terreno. Diz-se também que a bela, elegante e inteligente comunista de origem goesa – uma portuguesa de coração africano – se manteve rebelde até ao último momento. Dizia que não tinha medo e que quanto mais depressa a matassem melhor. Ao recusar ser vendada, obrigou os atiradores do pelotão de fuzilamento, a enfrentarem o seu olhar, antes de apertarem o gatilho.»

Conheci muito bem a família Valles. Conheci bem os três irmãos o Edgar Ademar, a Sita Maria e o Edgar Francisco, assim como os pais. Fui ao casamento do Ademar em Dezembro de 1973 na Floresta, do casamento com a Isabel Penaguião nasceu o Frederico, ainda bem que ficou um filho para que não deixe cair no esquecimento os pais. Não sei se os pais  da Sita  ainda vivem.  Também cabe ao único irmão que sobreviveu não deixar cair no esquecimento a Sita, o marido e o irmão  Ademar, para que um dia a historia de Angola seja escrita com verdade.
As novas gerações de Portugal e de Angola precisam saber.
FELICIA CABRITA adptado
1977

Sem comentários:

Enviar um comentário